Primeiro desencontro.
Saindo do hospital, me ocorreu algo:
- Eu estava pensando... - Havia um leve tremor
em minha voz.
- Sim? - Perguntou.
- O Doutor recomendou que fosse... - minha voz
foi parecendo cada vez mais distante - a uma clinica de reabilitação...
- Esta me zoando ou algo do tipo? - Ela parou em
meio a escada e suas palavras foram violentamente jogadas na minha cara - Me
tirou daquele beco imundo e acha que tem algum direito sobre isso? Eu estaria
bem agora, com ou sem você. - continuou - E quer saber de uma coisa? Vou
continuar sozinha.
E assim foi feito, fui largado aos pés da
escada, sozinho, e com aquelas ultimas palavras ecoando ao meu redor e se
propagando pelo vazio. Agora, estava outra vez caminhando pelo cenário da noite
anterior, a luz do dia o beco era apenas um lugar qualquer, caminhava sem presa
observando-o, o lugar onde meu anjo caiu, caiu para me encontrar, eu apenas
sorri. "Meu Deus, o que há comigo?", pensei, não consigo parar de
pensar nela... Na linda, porém desconhecida, Raquel... Andava distraído naquele
momento, meus pensamentos estavam apenas nela, o que teria feito-a ficar
naquela situação? Estaria ela abandonada? Mas por quê? É difícil saber ao certo
quando só se tem hipóteses em mente, como queria encontra-lá novamente e
questiona-lá até ter todas as respostas, era um tipo de necessidade de saber
sua real história, mas, Nova York não era o tipo de cidade pequena, talvez
nunca mais há encontraria novamente, talvez há encontraria amanhã ou quem sabe
nas próximas horas, mas só havia uma única certeza, era imprevisível.
Mal encostei na maçaneta quando a porta se
abriu:
- Posso saber onde andou a noite toda? E por que
carrega o celular se não o atende? - Elena, mais conhecida como minha irmã mais
nova e preocupada, ela passou a morar comigo assim que nossos pais faleceram.
- Eu estava no hospital - Dei um beijo em seu
rosto e passei porta adentro.
- No hospital? Aconteceu alguma coisa? -
Questionou.
- Nada demais, só encontrei uma garota caída no
beco e levei-a para o hospital - Não mostrei interesse algum na conversa
enquanto vasculhava os armários da cozinha em busca de comida.
- Só devia ter avisado, sabe que não gosto de
ficar sozinha aqui e tenho medo, ainda mais depois do que aconteceu - Não teve
forças para continuar.
- Você tem aula, não tem? Vai se atrasar! –
Disse, desviando o assunto.
- Já estou indo - Logo depois o barulho da porta
batendo ecoou pelo pequeno apartamento.
Elena era uma garota normal como outras de sua
idade, seus cabelos castanhos batiam no ombro e seus olhos eram verdes como da
mãe, era baixa e magra, tinha 16 anos e foi a única sobrevivente do incêndio
que matou meus pais.
...
Alguns
dizem que eu deveria mudar, mas, não se muda o que não há mais concerto, ou
remendos a fazer que possam resolver. Naquela manhã ao sair do hospital, minha
monotonia veio a tona novamente, já não sei mais o que estou tomando e nem
sequer me importo com isso, e tinha somente algo em mente, precisava de
cigarros ou qualquer tipo de droga que irá me consumir até meu ultimo suspiro. Acendi meu ultimo cigarro em mãos.
- Algum dia isso vai matar você - A sombra ficou
posta a diante.
- Dane-se, isso não é da sua conta, trouxe a
droga?
- Trouxe o dinheiro?
- Sabe que eu sempre pago. – Disse
- E quando foi a ultima vez que me pagou? Ainda está me
devendo. – Suas palavras lutavam para atravessar a fumaça mal cheirosa daquele
cigarro e tentavam agarrar-se em meus ouvidos.
- Eu vou pagar, é só uma questão de tempo. – Continuava ali,
paralisada e apreciando o gostinho final de destruição em meus pulmões.
Os dias eram curtos e noites longas,
provavelmente você estava certo sobre minha vida errada, mas quem liga? Então
me pague uma bebida barata e deixe-me ser feliz com a infelicidade de alguém
que não tem mais nada a perder, deixe-me ser tola e escrava da lua. Vagando por
ruas estreitas em um circulo vicioso de solidão, um rosto estampado com impressão
de sujeira e uma alma perdida, sempre saindo viva, mas com cicatrizes que não
consigo esquecer, e é isso que recebo pelas escolhas que fiz quando deixei um
pedaço de mim morrer aos poucos.
Meu coração se parte a cada passo que dou pelas
ruas sujas da cidade, se encontrando com faces desconhecidas com olhares
enojados sempre voltados para mim, você ai que me observa tanto, venha,
sinto-me tão sozinha, então me faça companhia está noite e tente se divertir
nesse meio tempo, me deixe beijar-te intensamente porque afinal, todos nós
morremos no fim. Então, você pode fazer-me sentir-se em casa, mas, toda manhã
eu sigo a diante deixando tudo para trás, é como eu disse querido, ás vezes o
amor não é o bastante.
Continua.