Capitulo 02.

Primeiro desencontro.

Saindo do hospital, me ocorreu algo:
- Eu estava pensando... - Havia um leve tremor em minha voz.
- Sim? - Perguntou.
- O Doutor recomendou que fosse... - minha voz foi parecendo cada vez mais distante - a uma clinica de reabilitação...
- Esta me zoando ou algo do tipo? - Ela parou em meio a escada e suas palavras foram violentamente jogadas na minha cara - Me tirou daquele beco imundo e acha que tem algum direito sobre isso? Eu estaria bem agora, com ou sem você. - continuou - E quer saber de uma coisa? Vou continuar sozinha.
E assim foi feito, fui largado aos pés da escada, sozinho, e com aquelas ultimas palavras ecoando ao meu redor e se propagando pelo vazio. Agora, estava outra vez caminhando pelo cenário da noite anterior, a luz do dia o beco era apenas um lugar qualquer, caminhava sem presa observando-o, o lugar onde meu anjo caiu, caiu para me encontrar, eu apenas sorri. "Meu Deus, o que há comigo?", pensei, não consigo parar de pensar nela... Na linda, porém desconhecida, Raquel... Andava distraído naquele momento, meus pensamentos estavam apenas nela, o que teria feito-a ficar naquela situação? Estaria ela abandonada? Mas por quê? É difícil saber ao certo quando só se tem hipóteses em mente, como queria encontra-lá novamente e questiona-lá até ter todas as respostas, era um tipo de necessidade de saber sua real história, mas, Nova York não era o tipo de cidade pequena, talvez nunca mais há encontraria novamente, talvez há encontraria amanhã ou quem sabe nas próximas horas, mas só havia uma única certeza, era imprevisível.

Mal encostei na maçaneta quando a porta se abriu:
- Posso saber onde andou a noite toda? E por que carrega o celular se não o atende? - Elena, mais conhecida como minha irmã mais nova e preocupada, ela passou a morar comigo assim que nossos pais faleceram.
- Eu estava no hospital - Dei um beijo em seu rosto e passei porta adentro.
- No hospital? Aconteceu alguma coisa? - Questionou.
- Nada demais, só encontrei uma garota caída no beco e levei-a para o hospital - Não mostrei interesse algum na conversa enquanto vasculhava os armários da cozinha em busca de comida.
- Só devia ter avisado, sabe que não gosto de ficar sozinha aqui e tenho medo, ainda mais depois do que aconteceu - Não teve forças para continuar.
- Você tem aula, não tem? Vai se atrasar! – Disse, desviando o assunto.
- Já estou indo - Logo depois o barulho da porta batendo ecoou pelo pequeno apartamento.
Elena era uma garota normal como outras de sua idade, seus cabelos castanhos batiam no ombro e seus olhos eram verdes como da mãe, era baixa e magra, tinha 16 anos e foi a única sobrevivente do incêndio que matou meus pais.

                                                            ...

Alguns dizem que eu deveria mudar, mas, não se muda o que não há mais concerto, ou remendos a fazer que possam resolver. Naquela manhã ao sair do hospital, minha monotonia veio a tona novamente, já não sei mais o que estou tomando e nem sequer me importo com isso, e tinha somente algo em mente, precisava de cigarros ou qualquer tipo de droga que irá me consumir até meu ultimo suspiro. Acendi meu ultimo cigarro em mãos.
- Algum dia isso vai matar você - A sombra ficou posta a diante.
- Dane-se, isso não é da sua conta, trouxe a droga?
- Trouxe o dinheiro?
- Sabe que eu sempre pago. – Disse
- E quando foi a ultima vez que me pagou? Ainda está me devendo. – Suas palavras lutavam para atravessar a fumaça mal cheirosa daquele cigarro e tentavam agarrar-se em meus ouvidos.
- Eu vou pagar, é só uma questão de tempo. – Continuava ali, paralisada e apreciando o gostinho final de destruição em meus pulmões.

Os dias eram curtos e noites longas, provavelmente você estava certo sobre minha vida errada, mas quem liga? Então me pague uma bebida barata e deixe-me ser feliz com a infelicidade de alguém que não tem mais nada a perder, deixe-me ser tola e escrava da lua. Vagando por ruas estreitas em um circulo vicioso de solidão, um rosto estampado com impressão de sujeira e uma alma perdida, sempre saindo viva, mas com cicatrizes que não consigo esquecer, e é isso que recebo pelas escolhas que fiz quando deixei um pedaço de mim morrer aos poucos.
Meu coração se parte a cada passo que dou pelas ruas sujas da cidade, se encontrando com faces desconhecidas com olhares enojados sempre voltados para mim, você ai que me observa tanto, venha, sinto-me tão sozinha, então me faça companhia está noite e tente se divertir nesse meio tempo, me deixe beijar-te intensamente porque afinal, todos nós morremos no fim. Então, você pode fazer-me sentir-se em casa, mas, toda manhã eu sigo a diante deixando tudo para trás, é como eu disse querido, ás vezes o amor não é o bastante.



Continua.

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