Primeiro
encontro inesperado.
Completamente
perdida em um mundo obscuro, afundada em drogas e bebidas baratas, com todas as
suas revoltinhas repugnantes e cortes, trancada em seu próprio desespero, assim
você era. E por mais imprudente que fosse eu a amava...
Maio de 2009, quando tudo começou:
Já era tarde quando voltava do trabalho, e
algumas ruas de Nova York não eram muito seguras por volta deste horário, só
havia um trajeto para casa e era este, uma rua escura e de ar gélido, pouco
segura e tão pouco era iluminada.
A poucos metros dali a avistei, se arrastando
e apoiando-se pelas paredes daquele beco imundo e por mais arriscado que fosse,
não consegui simplesmente ignorar, não hesitei em ajudar e a medida que me
aproximava calafrios percorriam por todo meu corpo. Dei alguns passos
apressados em sua direção e a peguei, passando seu braço pelos meus ombros para
lhe dar apoio, ela me lançou um olhar de espanto e logo depois tentou me
repelir, mas, em seguida desmaiou sem conseguir evitar e caiu em meus braços,
segurei-a para que não caísse e me sentei no meio-fio, colocando-a deitada delicadamente
com a cabeça em meu colo, tirei o telefone do bolso e liguei para a ambulância.
Apesar da pouca luz consegui visualizar seu rosto, seu cabelo era liso e negro
como aquele céu acima de nós, tirei uma
mexa de cabelo escuro de seu rosto enquanto a fitava, ela usava um batom
vermelho e sua maquiagem borrada mostrava claramente o caminho percorrido por
suas lágrimas antes de deixa-lás cair, e também usava uma blusa preta e um
jeans surrado e estava quase esquelética, porém, ainda havia alguns traços
visíveis de seu corpo, e suas marcas de dor, cortes. Mas dormia como um anjo em
meu colo, um anjo caído do céu para que eu pudesse encontrar.
Minutos depois, me deparei com uma luz
forte que vinha em minha direção, obriguei-me a tentar olhar para o farol que
quase cegava-me, reprimi os olhos e vi que era o tão esperado socorro, o
veiculo branco parou a diante deixado o local mais claro e então uma moça
baixinha e magra acompanhada de um cara alto empurrando uma maca saíram de
dentro da ambulância. Ela se abaixou para poder analisar melhor o estado da
mulher que se encontrava aninhada em meus braços.
- O que aconteceu com ela? – Perguntou.
- Eu... eu estava indo para casa quando a
encontrei se arrastando aqui e então ela desmaiou – Disse.
- Bom, é melhor leva-la logo – dirigiu um
olhar para o rapaz de pé parado ao lado – coloque-a na maca.
Ele a tirou de meus braços como ordenou a pequena
enfermeira e em seguida prosseguiu para dentro do veiculo empurrando novamente
a maca que agora já não estava mais vazia. Eu os segui indo em direção a porta
traseira da ambulância para ir até o hospital quando fui parado pelo rapaz:
- Você não pode ir junto senhor, sinto
muito.
- Eu preciso, não a abandonei aqui sozinha
e não vou deixar que a levem sozinha. – Levantei um olhar de suplica para a
senhora que estava verificando os batimentos cardíacos do anjo caído e logo
depois para o rapaz que também dirigiu um olhar a ela.
- Entrem logo, temos que ir o quanto antes.
Depois de incontáveis minutos, novamente a enfermeira
veio ao meu encontro, agora na sala de espera.
- Ela já está em repouso no quarto –
Informou.
- Isso é ótimo, posso vê-lá? – Indaguei.
- Sinto muito, apenas familiares.
- Moça... Desculpe, ainda não sei seu nome
– Disse confuso – você não está
entendendo, eu preciso vê lá. - Persisti
Me dirigiu um sorriso deixando visíveis
algumas rugas em seu rosto.
- Meu nome é Sara.
- O que está havendo aqui? - O doutor
interrompeu-nos.
- Eu preciso ver a garota... Ah... -
Lembrei de um pequeno detalhe, eu também não sabia seu nome - Aquela que veio
para cá de ambulância.
- Sinto muito meu rapaz, apenas familiares.
– Afirmou o doutor.
- Mas Doutor, eu a salvei, preciso saber
como ela está - novamente persisti - por favor...
- Nesse caso - disse ele virando-se para Sara
- acompanhe o jovem ao quarto da senhorita.
Eu a segui pelos frios e longos corredores
iluminados até o quarto n° 311 onde a encontrei novamente dormindo, e agora sob
a luz estava mais pálida do que nunca, mas seu cabelo continuava negro como
crepúsculo.
- Pode me dizer o que aconteceu com ela? - Perguntei.
- Uma intoxicação por remédios, parece que
ela tentou suicídio – deu um longo suspiro – felizmente a trouxemos a tempo de
fazer uma lavagem estomacal para o organismo não fazer a absorção completa dos
medicamentos, agora ela está em observação.
- Posso passar a noite aqui? - Perguntei
- Olha, só não conte ao doutor, está bem? -
Ela abandonou a sala me deixando a sós com o anjo caído. A noite estava sendo
longa e naquele instante pude observa-lá melhor e imaginei mil e uma maneiras
de ter feito-a acabar nesse estado em um beco sujo se arrastando sozinha.
Aquela visão foi projetada em meu cérebro,
deixando-as lá enquanto eu dormia. Em sonhos agitados eu caminhava só, sob a
meia luz da rua que era fria e úmida, em que o som de meus passos estavam a
perturbar o silêncio, mas algo a mais começou sussurrar em meio aquele silêncio
ecoando em minha cabeça.
- Ei, você ai! Psiu! – Já era de manhã quando
ela me acordou – Pode-me dizer como vim parar aqui? Não consigo me lembrar de
nada. – Disse.
- Ai como minha cabeça dói – Ela colocou a mão
em sua testa e começou a massagea-lá com pequenos movimentos circulares.
- Ontem a noite... – esperei que voltasse sua
atenção para mim - Quando eu voltava do trabalho, encontrei você caindo em um
beco e lhe trouxe para cá.
- Não me lembro de ter pedido sua ajuda – Apesar
da situação seu humor estava impecável.
- Tem razão, não pediu, afinal desmaiou antes de
qualquer coisa – Respondi deixando aparecer um sorriso sarcástico.
- Só quero sair daqui tá legal?! - Resmungou.
- Ei, ei, querida! Não desconte sua raiva em
mim, precisa tomar alta está bem? Depois te levarei para casa.
- Me levar para casa? Mas quem você pensa que é?
– Indagou.
- A pessoa que te salvou anteriormente, presumo.
- Meu heroí, como poderei lhe agradecer? - Sua
irônia era um tanto irritante.
- Ficando quieta até o médico lhe dar alta já é
uma boa maneira - Disse - Agora... pare de ser chata e seja uma boa menina, que
tal começando me dizendo seu nome, querida?
- Raquel... Raquel Stuart.
- Vicent Marinelli, e o prazer é todo meu my
lady. – Me aproximei e plantei um beijo nas costas de sua mão.
Após te-lá feito calar a boca em um modo sutil,
o Doutor entrou no quarto.
- A senhorita já pode ir casa - Houve um pequeno
animo em seu rosto pálido - Porém, recomendo que vá a esse centro de
reabilitação.- Sua feição era de surpresa com um pequeno toque de ódio.
- Mas eu não... - Ele a interrompeu antes que
pudesse terminar - precisa de uma carona para casa.
- Eu cuidarei disso Doutor. - Falei.
- Agora estão liberados - Sorriu.
- Então, está pronta para ir?
- Ir? Com você? Até parece, prefiro passar a
eternidade nesse hospital. - Sua teimosia era irritante assim como sua irônia.
- Bom, então espero que goste da comida de
hospital - Disse virando as costas e andando lentamente até a porta.
- Ei espere! Vai me levar para casa ou não?
Caminhamos lado a lado pelos longos corredores
brancos, por Deus, como alguém consegue se recuperar aqui? Este lugar me deixa
doente só pelo ambiente claro e sem vida.
Continua.