“Temos um passado, mas não um futuro, e lembrar
não irá me levar há algum lugar, não há como voltar aquela noite. Repetidas e
repetidas vezes eu voltei para casa atento pelos seus sinais, em busca de
qualquer vestígio de você, procurei por mais vezes do que possa contar e com o
tempo tudo começou a ter a mesma aparência”
- VICENT! SERÁ QUE DÁ PRA ACORDAR?! Terra
chamando!
- Hã? Ah, bom dia Elena.- disse meio sonolento.
- Você deveria parar com isso, parar de pensar
naquela moça, já está ficando fora das orbitas.
- E quem disse que estava pensando nela,
maninha? – Perguntei.
-Com essa cara? Nem precisa.
- Bom, que seja, você tem que ir para a aula e
eu tenho que trabalhar – dei-lhe um beijo na testa – Direto para casa mocinha.
- Pode deixar Vih. – Seguiu-se pelo barulho da
porta.
Já era de se esperar que ficasse sozinho pelos
minutos seguintes, apreciando o sabor daquele café fumegante e com a trilha
sonora do tic-tac do relógio ao fundo me avisando que hora estava correndo e eu
não tinha tempo a perder, dei um ultimo gole e sai para o trabalho. Desci as
escadarias do prédio, três andares para ser mais exato, e como de costume cumprimentei o porteiro, a
manhã estava cinza quando visualizei pela primeira vez ao dia o céu, pensei
comigo mesmo que deveria começar a ter o habito de carregar guarda-chuva ainda
mais quando o tempo estivesse ameaçando chover, mas guarda-chuvas para mim são
apenas tralha, gosto de sentir a chuva tocando minha pele, mas precisava chegar
seco ao trabalho caso não quisesse ser demitido, dei um riso sarcástico. Por
sorte, o estúdio não ficava longe, tampouco precisava andar até lá
- Vicent, meu querido, se incomodaria de tratar
essas fotos pra mim? - Mau havia colocado os pés para dentro quando a Sra.
Marta já ia dando ordens me entregando o cartão de memória da câmera onde se
encontravam as fotos acabadas de sair do forno. – São do book da nova modelo e
a revista quer ter logo tudo em mãos para a próxima edição, poderia se
apressar, querido?
- Claro Sra. Marta, vou agora mesmo. – Afirmei. Segui
para o computador e o liguei.
Trabalhar para Sra. Marta não era lá um trabalho
muito bom, mas pagava bem. Ora ela me deixava fotografar ou a maioria das vezes
apenas ajudava com aquelas modelos magrelas que todos vêem como “modelo de
beleza”, o que há de beleza naquilo? Elas mal comem! Com certeza não era o tipo
de “beleza” que eu admirava. E então me lembrei dela, Raquel, como poderia
esquecer, a desconhecida do beco? Ela não era modelo, mas devido à aparência
esquelética de seu corpo poderia até ser comparada a uma. Logo expulsei o
pensamento para longe e me concentrei no trabalho com as fotos. As horas
passavam rápido e por ora tinha acabado, então o que me restara era relaxar
tranquilamente na poutrona em frente ao monitor e observar o pequeno mundo a
minha volta, e a alguns metros dali a Sra. Com cabelos que lembravam a miojo
fotografava a boneca Barbie, cabelos louros e longos, alta e magra, olhos
azuis( se é que não fossem falsos, tirando os outros volumes siliconados).
Fazendo caras e bocas a cada flash, até direcionar um olhar na minha direção e
sorrir com malicia, esse tipinho de perfeição me causava náuseas.
-Vicent, pode vir aqui um momento? – Indagou a
baixinha com cabelos de miojo.
- Sra. Marta, sim?
- Querido, queria te apresentar a Thiffany, ela
vai ser nossa modelo na viagem a New Yourk e acho que vocês vão passar um bom
tempo juntos agora.
- Olá – Disse sem graça enquanto estendia a mão
para Thifanny, que superou a expectativa de um aperto de mãos se jogando em mim
para um abraço.
- Mas por hoje acabamos, já estão dispensados
minhas crianças – Disse Marta – Mas acho que vocês vão querer esperar a chuva
passar, dêem uma olhada pela janela. – Observou.
A vida continuou a seguir, bem, ela tinha de
seguir. No fim Raquel foi apenas mais uma daqueles estranhos que sem querer as
vezes você esbarra na rua e por um presente momento, um pequeno momento fez parte
de sua vida e logo, vai embora. Na semana seguinte em que ocorreu nossa viagem
a New Yourk, Elena nos acompanhou e ver
Thifanny se tornou rotina, uma rotina chata cujo Elena desprezava,
aparentemente a modelo “Barbie” deixava minha irmã enjoada.
- Ela não serve para você, além de ser atirada
me causa nojo! – Dizia todos os dias quando saímos do hotel para encontrar ela
e a Sra. Marta.